terça-feira, 11 de maio de 2010

África do Sul: o país da Copa

Pio Penna Filho*

A África do Sul será a sede da Copa do mundo de futebol de 2010. No país, que possui a economia mais avançada do continente africano, as expectativas são grandes. A Copa tem um significado muito especial para os sul-africanos, sobretudo para os negros, que elegeram o futebol como um dos seus esportes preferidos. Depois de passar pela terrível experiência do apartheid os sul-africanos estão agora eufóricos e ansiosos para mostrar ao mundo um pouco da sua riqueza cultural e do seu belo país.
A maior parte das pessoas que passa pela África do Sul fica impressionada com as belas paisagens do país e com a diversidade étnica e cultural do seu povo. Mesmo tendo sofrido as agruras e o barbarismo da discriminação racial imposta pela minoria branca, a maioria dos sul-africanos demonstra uma grande vivacidade e otimismo com o futuro do país. Há algo de alegre e contagiante no povo da África que também está presente entre os sul-africanos.
A diversidade cultural é um traço marcante da África do Sul. Existem onze línguas predominantes e os vários grupos étnicos que juntos formam a população do país vivem em harmonia. Embora existam territórios com predominância étnica, há também muitos grupos vivendo em espaços próximos ou comuns, incluindo os brancos. Isso geralmente se dá em grandes cidades, como em Joanesburgo e na Cidade do Cabo.

A economia sul-africana é bem diversificada e possui uma importante base industrial. O produto interno bruto do país é, de longe, o mais elevado do continente. Hoje, situa-se em torno de 470 bilhões de dólares, sendo a renda per capita estimada em pouco mais de 10 mil dólares. O dinamismo econômico faz da África do Sul um Estado estratégico para toda a região austral do continente africano, uma vez que ajuda a estimular a economia regional.
Mas nem tudo no país da Copa vai bem. Existem muitos problemas sociais e o governo encontra enormes dificuldades para conseguir implementar políticas de inclusão social. É fato que a pressão social é muito grande, em parte porque há uma demanda reprimida que vem dos tempos da segregação racial (apartheid), quando a maior parte da população estava excluída ou semi-excluída das políticas públicas. O panorama atual pode ser resumido da seguinte forma: apesar de existir vontade política para promover mudanças e dar atenção especial à população historicamente marginalizada (principalmente os negros), faltam recursos para atender a uma demanda tão grande. O resultado é que, por vezes, a insatisfação popular se exacerba.
Mas mesmo com todos os seus problemas a África do Sul segue adiante. Não gostaria, nesse breve artigo, de replicar apenas as mazelas e os problemas sociais que o país enfrenta. Penso que o mais importante agora é olhar com otimismo todo o significado que o esporte e, em especial, o futebol, tem para a população sul-africana que, carinhosamente, chama o seu selecionado de “Bafana Bafana”, o que em português poderia ser traduzido como “garotos”.
Aqueles que terão oportunidade de conhecer o país da Copa certamente voltarão da África com outra visão do país e do continente, uma vez que é praticamente impossível não admirar sua diversidade cultural, suas belezas naturais e, sobretudo, o jeito de ser otimista e alegre do africano.

* Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e Pesquisador do CNPq.

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