terça-feira, 28 de dezembro de 2010



A política externa da era Lula

Pio Penna Filho


Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

O presidente Lula está se despedindo de oito anos de governo com uma popularidade impressionante, tendo superado todas as pesquisas que analisam a imagem popular de um presidente da república feitas até o momento no Brasil. Creio ser oportuno, no ocaso do seu governo, um balanço dos oito anos de sua política externa.
A projeção internacional do Brasil aumentou após os dois governos de Lula. Nunca tivemos uma visibilidade internacional como temos agora. Isso começou com a própria eleição do Lula, uma vez que o fato de um ex-metalúrgico ter chegado ao poder num país das dimensões do Brasil logo chamou a atenção do mundo. Na sequencia, o carisma do presidente completou e ampliou a imagem inicial favorável.
No contexto regional, apontado como prioritário pela politica externa, muitos foram os desafios encontrados. O Brasil teve que lidar com governos que apresentaram reivindicações sensíveis ao país, como foram os casos do Paraguai (revisão do Tratado de Itaipu) e Bolívia (revisão dos contratos de compra de gás), com a postura dura do governo equatoriano (no caso de investimentos brasileiros no país), se equilibrar politicamente frente às iniciativas bolivarianas da Venezuela chavista, inclusive de sua entrada no Mercosul, e das idas e vindas da Argentina, principalmente no âmbito do Mercosul.
Apontada pelos críticos como uma espécie de “diplomacia da generosidade” (por quase sempre ceder às exigências econômicas e comerciais dos vizinhos), a atitude brasileira na América do Sul tentou contemporizar uma postura de esquerda com pragmatismo político, nem sempre sendo bem sucedida, sobretudo por sua ambiguidade. Evitou assumir responsabilidades maiores, como no caso da crise envolvendo o governo Uribe (na Colômbia), as Farcs, a Venezuela, o Equador e a presença militar norte-americana na região.
No plano mundial, talvez o fato mais marcante tenha sido o reposicionamento do Brasil no sistema financeiro internacional e sua capacidade para enfrentar a pior crise econômica desde o crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929. O presidente Lula não se conteve quando anunciou, por exemplo, que passamos a credores do FMI e chegou a criticar, duramente, a irresponsabilidade especulativa dos ricos que, afinal, foram os grandes responsáveis pela crise.
Uma novidade foi a retomada das chamadas relações Sul-Sul. Iniciativas como a IBAS (fórum de diálogo envolvendo Índia, Brasil e África do Sul) e reforço nos programas de cooperação com países menos desenvolvidos, principalmente no continente africano, marcaram de forma contundente a política externa nos últimos oito anos.
Mas a nossa diplomaciateve também os seus pontos fracos. Nos envolvemos no imbróglio hondurenho e continuamos, literalmente, a secar gelo no Haiti. A diplomacia fraquejou também frente à questão dos direitos humanos. Na África, Lula visitou países governados por ditaduras e fez feio ao lado de contumazes desrespeitadores dos mais elementares direitos. Tentou justificar o injustificável quando associou os presos políticos cubanos a bandidos comuns. Iniciou uma aproximação duvidosa com o Irã, um Estado quase pária no sistema internacional.


Em suma, a política externa da era Lula teve aspectos positivos e negativos, aliás como qualquer política externa. O diferencial é que pelo menos saímos um pouco do tradicional, arriscando e ensaiando o exercício de um papel que certamente não poderemos nos furtar num futuro não muito distante.
Conheça a articulação para a formação da candidatura de Tancredo Neves

O historiador Marco Antônio Villa fala sobre a história das eleições no Brasil. Neste vídeo, você assiste a como os partidos articularam a candidatura de Tancredo Neves à presidência da República.
1989: A disputa acirrada no 1º turno


O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, fala sobre a história das eleições no Brasil. Neste vídeo, o historiador conta como foi a disputa pela posto presidencial - havia 22 candidatos - no primeiro turno da primeira eleição direta desde 1960. Enquanto Collor se manteve confortável na liderança, Lula e Brizola brigaram pelo segundo lugar e pelo direito de ir ao segundo turno.
Os presidentes da Ditadura



O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, fala sobre a história das eleições no Brasil. Neste vídeo, Villa discute o O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, fala sobre a história das eleições no Brasil. Neste vídeo, Villa discute o período em que o país foi governado por presidentes militares eleitos primeiro pelo Congresso e depois pelo Colégio Eleitoral. O historiador compara o processo eleitoral do regime brasileiro com o de outras ditaduras da América Latina.
Saiba mais sobre a a participação das mulheres e dos analfabetos nas eleições brasileiras




O historiador Marco Antônio Villa fala sobre a história das eleições no Brasil. Neste vídeo, você assiste o comentário do especialista sobre a participação das mulheres e de analfabetos nas eleições, esta última oficializada na Constituição de 1988.
Conheça as características das eleições entre 1945 e 1960



O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, fala sobre a história das eleições no Brasil. Neste vídeo, o historiador discute a alternância de poder entre situação e oposição entre 1945 e 1960, período marcado pelos mandatos do Marechal Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Entenda os fatores que levaram o Brasil a entrar na Primeira Guerra Mundial


Trecho da aula de história do Brasil sobre a entrada do país na 1ª Guerra Mundial. Ministrada pelo professor João Daniel.
Ossos oferecem visão sobre a vida dos neandertais
Por Carl Zimmer

New York Times News Service
No fundo de uma caverna, nas florestas do norte da Espanha, estão os resquícios de um terrível massacre. As primeiras pistas apareceram em 1994, quando exploradores encontraram na caverna El Sidrón o que acharam se tratar de mandíbulas humanas. Inicialmente, imaginou-se que os ossos fossem da época da Guerra Civil espanhola. Na ocasião, soldados republicanos usaram a caverna como esconderijo. A polícia descobriu mais fragmentos de ossos em El Sidrón, que foram enviados a cientistas forenses. Estes determinaram que os ossos não pertenciam a soldados, ou mesmo ao humano moderno. Aqueles eram restos mortais de neandertais, mortos há 50 mil anos.

Hoje, El Sidrón é um dos locais mais importantes do mundo para se aprender sobre neandertais, que viveram na Europa e na Ásia entre 240 mil a 30 mil anos atrás. Cientistas descobriram outros 1.800 fragmentos de ossos na caverna, alguns dos quais geraram trechos de DNA.

Mas o mistério permanece há 16 anos. O que aconteceu às vítimas de El Sidrón? Num artigo desta semana em “The Proceedings of the National Academy of Sciences”, cientistas espanhóis que analisaram os ossos e o DNA relatam a terrível resposta. As vítimas eram doze membros de uma mesma família, mortos por canibais.

“Essa é uma descoberta impressionante”, disse Todd Disotell, antropólogo da Universidade de Nova York. Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, disse que o artigo “nos dá o primeiro vislumbre de estruturas sociais entre os neandertais”.



Todos os ossos foram localizados num espaço com o tamanho de um quarto, apelidado pelos cientistas de Túnel de Ossos. Eles estavam misturados numa confusão de cascalho e lama, sugerindo que eles não morreram nesse cômodo. Em vez disso, eles morreram na superfície acima da caverna.

Seus restos mortais não poderiam ter ficado ali por muito tempo. “Os ossos não foram varridos ou desgastados pela erosão”, disse Carles Lalueza-Fox, da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, co-autor do novo artigo. Parte do teto no Túnel de Ossos provavelmente desabou durante uma tempestade, e os ossos teriam caído dentro da caverna.




Nenhum osso animal foi arrastado ao Túnel de Ossos junto aos de neandertais. Na verdade, a única outra coisa que os cientistas encontraram lá foram fragmentos de lâminas de ossos. E quando os cientistas examinaram detalhadamente os ossos, eles encontraram marcas de cortes – sinais de que as lâminas haviam sido usadas para separar os músculos dos ossos. Os ossos grandes haviam sido quebrados e abertos. A partir dessas pistas, os cientistas concluíram que os neandertais foram vítimas de canibalismo. Indicações de canibalismo entre neandertais foram encontradas em outros locais, mas El Sidrón é excepcional pela extensão das evidências.

Ao examinar os fragmentos de ossos, os cientistas tentaram juntar os pedaços. Alguns dentes soltos se encaixam com precisão em mandíbulas, por exemplo. “A coisa toda era muito complicada. Na verdade, aquilo estava uma bagunça”, afirmou Lalueza-Fox.

Após anos resolvendo esses quebra-cabeças anatômicos, Lalueza-Fox e seus colegas identificaram 12 indivíduos. O formato dos ossos permitiu que os cientistas estimassem idade e sexo. Os ossos pertenciam a três homens, três mulheres, três meninos adolescentes e três crianças, incluindo um bebê.

Assim que os cientistas souberam com o que estavam lidando, eles examinaram o DNA nos ossos. A escuridão fria e úmida de El Sidrón fez da caverna um excelente armazém para DNA antigo. Lalueza-Fox e seus colegas publicaram uma série de intrigantes relatos sobre seu DNA. Em dois indivíduos, por exemplo, eles encontraram uma variante de gene que pode lhes ter dado cabelos ruivos. Eles se lançaram num ambicioso projeto de encontrar DNA nos dentes de todos os 12 indivíduos. Em um teste, eles conseguiram identificar um cromossomo Y em quatro. Os cientistas já haviam identificado esses quatro como machos – os três homens e um menino adolescente – com base em seus ossos.

Em seguida, os cientistas buscaram por DNA mitocondrial, que é passado de mãe para filho. Eles procuraram especificamente por dois pequenos trechos, chamados HVR1 e HVR2, especialmente inclinados a mutações de geração a geração. Os 12 neandertais geraram HVR1 e HVR2. Os cientistas descobriram que sete deles pertenciam à mesma linhagem mitocondrial, quatro a uma segunda linhagem, e um deles a uma terceira.

Lalueza-Fox argumenta que os neandertais deviam ser parentes próximos. “Se você sai às ruas e coleta amostras de 12 indivíduos aleatoriamente, é praticamente impossível encontrar sete deles com a mesma linhagem mitocondrial”, disse ele. “Mas se você for à festa de aniversario de uma avó, a probabilidade é a de encontrar irmãos, irmãs e primos em primeiro grau. Você facilmente encontraria sete pessoas com a mesma linhagem mitocondrial”.

Os três homens possuíam o mesmo DNA mitocondrial, o que pode significar que eles eram irmãos, primos ou tios. As fêmeas, porém, vinham todas de diferentes linhagens. Lalueza-Fox sugere que os neandertais viviam em pequenos grupos de parentes próximos. Quando dois grupos se encontravam, eles algumas vezes trocavam filhas.

“Só consigo imaginar as meninas neandertais, entregues tão cruelmente quanto as meninas modernas, tendo de deixar seus familiares mais próximos em seu dia de ‘casamento’”, disse Mary Stiner, antropóloga da Universidade do Arizona.

Linda Vigilant, antropóloga do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, na Alemanha, considera a pesquisa “um bom começo”. Mas ela contesta a afirmação de Lalueza-Fox, de que os neandertais seriam familiares próximos por pertencerem à mesma linhagem mitocondrial. Em seus estudos com chimpanzés selvagens, ela afirma que alguns chimpanzés com HVR1 e HVR2 idênticos não possuem parentesco próximo.



A melhor forma de resolver o debate, segundo Vigilant, é encontrar mais DNA neandertal, ao qual os genes de El Sidrón possam ser comparados. “É empolgante pensar que podemos realmente ser capazes de solucionar essa questão num futuro próximo”, disse Vigilant.

Lalueza-Fox acha que pode ser possível desenhar uma genealogia detalhada dos neandertais de El Sidrón nos próximos anos. Ele também espera compreender melhor como eles morreram. As lâminas de pedra podem oferecer uma pista. Elas foram feitas de rochas localizadas a apenas algumas milhas da caverna. As vítimas podem ter entrado no território de outro grupo de neandertais. Por seu ato de invasão, eles pagaram o maior preço possível.

Tradutor:
Gabriela D'Ávila

Fonte: www.noticias.uol.com.br

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Conheça mais detalhes da assinatura do Tratado de Tordesilhas

Tratado de Tordesilhas : a divisão do mundo
Por Cristiana Gomes
Na época das grandes navegações, os europeus acreditavam que os povos não cristãos e não civilizados poderiam ser dominados e por esta razão achavam que podiam ocupar todas as terras que iam descobrindo mesmo se essas terras já tivessem dono.

Começou assim uma verdadeira disputa entre Portugal e Espanha pela ocupação de terras.


Para evitar que Portugal e Espanha brigassem pela disputa de terras, os governos desses dois países resolveram pedir ao papa que fizesse uma divisão das terras descobertas e das terras ainda por descobrir.

Em 1493, o papa Alexandre VI criou um documento chamado Bula. Nesse documento, ficava estabelecido que as terras situadas até 100 léguas a partir das ilhas de Cabo Verde seriam de Portugal e as que ficassem além dessa linha seriam da Espanha.

O medo que Portugal tinha de perder o domínio de suas conquistas foi tão grande que, por meio de forte pressão, o governo português convenceu a Espanha a aceitar a revisão dos termos da bula e assinar o Tratado de Tordesilhas (1494).

Então os limites foram alterados de 100 para 370 léguas.

De acordo com o Tratado de Tordesilhas, as terras situadas até 370 léguas a oeste de Cabo Verde pertenciam a Portugal, e as terras a oeste dessa linha pertenciam a Espanha.

O Brasil ainda não havia sido descoberto e Portugal não tinha idéia das terras que possuía. Hoje sabemos onde passava a linha de Tordesilhas: de Belém (Pará) à cidade de Laguna (Santa Catarina).

De acordo com o Tratado, boa parte do território brasileiro pertencia a Portugal, mesmo se fosse descoberto por espanhóis.

Portugueses e brasileiros não respeitaram o tratado e ocuparam as terras que seriam dos espanhóis. Foi assim que o nosso território ganhou a forma atual.

Apesar dessa invasão, os espanhóis não se defenderam, pois estavam ocupados demais com as terras que descobriram no resto da América, ao norte, a oeste e ao sul do Brasil.


Mesmo após 250 anos de descobrimento, os brasileiros continuavam avançando para o interior, não respeitando a linha de Tordesilhas. A maioria nem sabia que ela existia. E assim, terras que seriam da Espanha, foram habitadas por brasileiros.

fonte: site infoescola.com

domingo, 19 de dezembro de 2010

Saiba mais sobre a obra-prima de Picasso, Guernica

Uma das pinturas mais famosas do mundo, Guernica, tem como tema principal a Guerra Civil Espanhola. O mural, feito por Pablo Picasso, representa o bombardeamento da cidade espanhola de Guernica, em 1937, por forças aéreas alemãs, aliadas a Franco.
A destruição de Guernica foi a primeira demonstração da técnica de bombardeamentos de saturação, mais tarde empregado na 2ª Guerra Mundial. O Mural constituiu uma visão profética da desgraça.
Em primeiro plano no quadro, está uma figura fragmentada com a cabeça cortada, à esquerda, e um braço também cortado, ao centro, agarrando uma espada quebrada, emblema bem conhecido da resistência heróica. Junto à espada quebrada encontra-se uma flor, como uma mensagem de esperança numa vida nova, apesar das tentativas do Homem para a destruir constantemente. A comovente delicadeza da flor parece aumentar o horror geral da cena caótica.

Entre as complexas imagens cubistas de "Guernica”, a mãe e o filho são imediatamente interpretados. Uma criança morta, pende inerte nos braços da mãe. O grito da mãe está representado pela língua que sugere a um punhal ou um estilhaço de vidro. Formas semelhantes aparecem um pouco por todo o quadro. A angústia no rosto da mulher que segura a criança é especialmente penetrante, talvez aumentada pelo contraste entre o estilo do rosto e a representação mais convencional da criança.


Embora Picasso raramente desse interpretação aos seus trabalhos, disse que o cavalo ou a angústia do cavalo, que se encontra no centro, representa o Povo.

Por cima da cabeça do cavalo, está um candeeiro elétrico aceso, em forma de sol, que sugere o "olho de deus" que tudo vê.

No lado direito do quadro, duas mulheres olham horrorizadas para o cavalo ferido com medo e pena, sugerindo certas semelhanças, em conceito e semelhança, com as imagens de Cristo na cruz e a presença das três Marias em cena. Picasso procurava talvez uma imagem moderna e secular para exprimir o sofrimento humano, mas uma que não tivesse qualquer simbolismo cristão explicito.

A figura à direita do quadro parece estar a ser consumida pelas chamas de um edifício a arder. Esta figura é também freqüentemente comparada à figura central de "os fuzilamentos" do 3 de Maio de 1808 de Goya. Existe ainda uma semelhança entre os elementos que levaram a ambos os quadros: os dois foram atos de selvagem brutalidade contra pessoas inocentes.
Se existe uma chave para a compreensão da obra de Picasso , ele encontra-se nos olhos por ele pintados. É tão grande a importância de tal órgão que o espectador sente-se imediatamente por ele atraído. No entanto ao pretender dar maior significado à expressão de conjunto estabelece novas associações entre cada traço do rosto e o meio exterior. Aliás, o motivo essencial da criação do Cubismo foi precisamente esse desejo de dissecação, de analisar os objetos para poder reconstitui-los sobre a tela, relevando a estrutura interna e os elementos que nos estão escondidos. A ausência de cor, ou seja, o monocromático é apropriado ao tema do quadro, ainda hoje politicamente controverso em Espanha. O simbolismo da cena resiste a uma interpretação precisa, apesar de vários elementos tradicionais.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Saiba mais sobre a evolução histórica de Cáceres, a princesinha do Paraguai



Neste video, o professor de História Edenilson Morais faz um breve relato acerca da formção histórica de Cáceres, cidade mato-grossense que no período colonial brasileiro exerceu um importante papel na definição da fronteira com o domínio espanhol na América do Sul e que recentemente recebeu o título de patrimônio cultural do Brasil, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Fundada em 6 de outubro de 1778, a pequena Vila Maria do Paraguai, nome escolhido para homenagear a rainha portuguesa, D. Maria I, acumula em sua história um forte patrimônio cultural. Além de seu centro histórico, das fazendas, das usinas, das manifestações ligadas ao Pantanal e ao Rio Paraguai, temos ainda, a sua pré-história construída por dezenas de nações indígenas e milhares de habitantes, confirmados pelas pesquisas arqueológicas mais recentes.
O local escolhido para a fundação de Cáceres era estratégico para a defesa e incremento da fronteira sudoeste de Mato Grosso em função da facilidade de comunicação entre Vila Bela da Santíssima Trindade e Cuiabá, as duas principais vilas mato-grossenses no século XVIII.
A Fazenda Jacobina, que ainda hoje mantêm sua importância histórica, destaca-se na primeira metade do século XIX por ser a maior da província de Mato Grosso em termos de área e produção.
Em fevereiro de 1754, foi assentado o Marco do Jauru, na foz do rio Jauru no rio Paraguai, definindo assim os limites dos impérios coloniais espanhol e português na América do Sul, fruto do tratado de Madrid. O Marco do Jauru foi transferido em 1883 para a Praça Central de Cáceres e foi tombado pelo Iphan em 1978, no ano do bicentenário da cidade. Junto com a Catedral de São Luis – construída entre 1919 e 1965 – os dois monumentos estão até hoje entre os principais atrativos turísticos da cidade.
Cáceres ao longo de sua história, escapou das duas grandes tragédias mato-grossenses do século XIX: a Guerra do Paraguai e a peste de varíola. Ao fim da guerra, com a livre navegação da bacia do Prata e por conseqüência do rio Paraguai, Cáceres iniciou uma nova fase de desenvolvimento. Foi elevada à condição de cidade em 1874 e recebeu grandes fazendas-indústrias destinadas a produção de carne enlatada para a exportação.
Atualmente, ainda existem importantes construções como as da Fazenda Descalvados, com capela, casa grande, alojamento de operários e galpões industriais, que ainda são utilizados pelo eco-turismo.
A navegação pelo rio Paraguai também proporcionou a chegada de novos materiais de construção e novas influências, o que por sua vez acabou resultando numa arquitetura eclética e rebuscada em grande parte dos imóveis do centro histórico de Cáceres.
Por tudo isso hoje a cidade de Cáceres, a famosa princesinha do Paraguai, é patrimônio cultural brasileiro.
Confira a aula em video.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Conheça a importância histórica dos quilombos em Mato Grosso




O professor de História, Edenilson Morais fala sobre a importância histórica da formação de quilombos em Mato Grosso e pra inicio de conversa é interessante que você tenha em mente que assim como ocorreu em todo o Brasil, também aqui em Mato Grosso o número de quilombos foi bastante expressivo ao longo do período de vigência da escravidão. O mais famoso de todos eles foi o Quilombo do Piolho ou Quariterê, localizado as margens do rio Guaporé e instalado entre 1770/1771, constituindo-se como uma aldeia composta por elementos de variadas etnias, além de negros, tínhamos também muitos índios e mestiços habitando essa comunidade quilombola.
Na época em que fora destruído pelas expedições enviadas pelas autoridades da capitania de Mato Grosso, quem governava esse quilombo era Tereza de Benguela, conhecida entre os quilombolas como “Rainha Tereza”.
Pouco tempo após a destruição desse quilombo, o capitao-general de Mato Grosso, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, ordenou a criação de uma aldeia no exato lugar onde, antes, existia o Quilombo do Piolho. Para isso, libertou vários casais de velhos escravos e os enviou para o local que recebeu o nome de Aldeia Carlota, em homenagem à rainha de Portugal, D. Carlota Joaquina.
Outros quilombos importantes foram instalados na região de Chapada dos Guimarães, principalmente na segunda metade do século 19. Um dos mais importantes quilombos de que se teve notícia estava situado nessa região, às margens do rio Manso.
Foi na década de 1870 que as notícias da existência dos quilombos chapadenses foram divulgadas com grande intensidade, isso no momento histórico em que já estavam em franco avanço as leis abolicionistas, responsáveis pela abolição da escravatura.
Outro quilombo localizado na região foi o do Cansanção, que causava temor a população chapadense devido aos constantes ataques ás propriedades rurais da região.
Vale lembrar ainda que os quilombos eram constituídos não somente de escravos africanos, mas também de homens livres pobres, dentre os quais se incluem soldados desertores e até mesmo criminosos fugitivos da lei, isso sem falar nos indígenas que também marcava presença nos quilombos.
As autoridades governamentais realizavam constantes expedições militares para combater os quilombos.
Somente no fim da década de 1870 é que os quilombos da região da Chapada foram severamente perseguidos e os quilombolas, quando aprisionados, eram inquiridos pelas autoridades, com o objetivo de se obter mais informações sobre esses redutos de resistência.
Mesmo tendo alguns quilombos sofrido perseguições e até mesmo destruição total, sua proliferação no território matogrossense foi uma realidade presente até a véspera da abolição. Esse fenômeno social marcou profundamente a reação da camada mais pobre da sociedade, pois os quilombos, antes de se apresentarem apenas como um refugio de negros escravos, representou o espaço conquistado pelos excluídos, ou seja, negros, brancos pobres e índios.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Professor explica a Revolução Russa
Bolcheviques derrubaram o czarismo em 1917. Lucas Kodama Seco é professor de história em cursinho em São Paulo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Professor de história explica a Lei da Anistia, aprovada em 1979
Lei favoreceu o processo de redemocratização, que já estava em curso.
Além dos presos políticos, também anistiou militares da repressão.




Em 1979, o Brasil aprova a Lei da Anistia. Ela é fruto de uma série de conquistas sociais e políticas que o Brasil vinha alcançando ao longo do governo Geisel, de acordo com Rogério Athayde, professor de história do Curso pH, no Rio de Janeiro.


No governo Figueiredo, em agosto, a lei é aprovada, favorecendo o processo de redemocratização, que já estava em curso. "Antes, em 1978, havia sido aprovado o fim do Ato Institucional número 5, passo fundamental para que o processo de redemocratização tivesse lugar", ressalta.


Com a Lei da Anistia, exilados políticos retornam ao Brasil. "Figuras importantes, como Leonel Brizola e Prestes voltam ao país e têm a disposição de lutar de forma efetiva pelo fim da ditadura militar."


Segundo o professor, a Lei da Anistia libera alguns presos políticos, mas permaneceram detidos aqueles acusados de terrorismo, que tinham participado da luta armada.


"A Lei da Anistia também será sempre lembrada por um problema, porque ela também anistia militares que participaram da repressão."
Outro fator que contribuiu para o processo de redemocratização foi a campanha pelas Diretas Já, em 1984.

Aprenda as diferenças entre o Colonialismo e o Neocolonialismo

Aprenda as diferenças entre o Colonialismo e o Neocolonialismo


O professor de história do CPV Eduardo Duique dá uma aula em vídeo sobre as diferenças entre colonialismo e neocolonialismo.
"Estamos falando de momentos diferentes da história, o colonialismo tem seu grande momento no século 16. O neocolonialismo se concentra nos séculos 19 e 20", diz. Enquanto o primeiro surge dentro do contexto do capitalismo comercial e mercantil e é estruturado e apoiado pelos estados absolutistas europeus da idade moderna, o neocolonialismo está relacionado à segunda revolução industrial e ao capitalismo financeiro e monopolista. O apoio, neste segundo, vem dos estados burgueses e liberais da Europa contemporânea, dos Estados Unidos da América e do Japão.
Confira a aula em video.

Conheça a história de Gengis Khan, o conquistador





Temudjin, mais conhecido como Gengis Khan, o bárbaro mongol, viveu de 1162 a 1227 e constituiu o maior império da História, unindo China, Turquia, Turkestão, Irã, Iraque e parte de Rússia.

O exército mongol funcionava com precisão e eficiência admiráveis. Organizava-se em dezenas, formados por dez homens que atuavam juntos em combate, saque ou obtenção de suprimentos.

A cada dez dezenas havia um chefe. A cada cem um Kan. E cada mil formavam uma “horda” que era dirigida por um general submisso ao "Grande Khan".

Aprendiam a montar e a utilizar as armas, em especial o arco composto, desde crianças. Todos os homens não incapacitados até 60 anos deviam participar da caça e da guerra.

Dessa maneira, o exército mongol reunia literalmente a totalidade da população masculina adulta.




Os mongóis combatiam sob um restrito código de disciplina. O abandono de um companheiro na batalha era castigado com a morte.

Genghis Khan organizou seu exército de uma forma espetacular, seguindo um sistema decimal, (10 / 100 / 1000 / 10.000). A unidade de 10.000 homens era a maior unidade combatente, como uma divisão moderna, capaz de manter por si só uma prolongada luta.

Os soldados individualmente se identificavam com a unidade de 1.000 homens da qual tomavam parte - o equivalente a um regimento moderno. As tribos mongóis originárias formavam suas próprias unidades de 1.000 homens cada.



Os povos conquistados, como os tártaros e os Merkits, eram desagregados e divididos em unidades de 100 guerreiros, para que não pudessem ser uma ameaça organizada para a família reinante.

O exército estava dividido em dezenas (arban), centenas (yaghun), milhares (mingghan) e dezenas de milhares (tumen).



Os guerreiros mongóis eram especialistas em emboscadas e ataques de surpresa. Os chefes de seu exército faziam grande uso de patrulhas de reconhecimento e de movimentos sincronizados para atacar o inimigo em desvantagem. Eram dirigidos por seus respectivos chefes, mas os cinco generais mais importantes do exercito mongol foram denominados os “Lobos de Temudjin”: Bogorchu suanda (irmão jurado); Yebe a Flecha; Kubilai; Yelme e Subotei.

Estes generais eram guerreiros tão formidáveis, que os inimigos diziam que “eles se alimentavam de sereno e carne humana, e eram tão ferozes que o grande Kahn tinha que amarrá-los”. Quando os liberava para irem à guerra, cavalgavam ao vento diante dos arqueiros, com a boca aberta, babando de alegria.



Ao contrário de todos os exércitos da história, os Mongóis não levavam provisões em suas campanhas, viviam do que encontravam em suas marchas. No deserto sobreviviam bebendo sangue de cavalo (abriam uma pequena ferida para beber dele) e iogurte de leite de égua.

Tinham um hábil serviço de espionagem e estudavam e copiavam técnicas utilizadas pelos seus adversários, como os elefantes persas ou as máquinas pesadas dos chineses.



Os mongóis fizeram uso exaustivo do terror. Se a população de uma cidade era massacrada depois de sua captura, era mais provável que a próxima cidade se rendesse sem luta. Iam se rendendo, cidade após cidade, ante a chegada do exército mongol.

Genghis Khan, não construiu o maior império da história apenas com força bruta e matanças. Também era um grande estrategista, brilhante e bárbaro governante, e um terrível vingador.

Genghis Khan, ou Temudjin, que significa "o que trabalha o ferro", tinha muitos inimigos, entre os quais se destacavam:

- Targutai, que havia matado o seu pai e o perseguia para ser definitivamente o rei dos mongóis.

- Os Mekitas, que o perseguiam porque seu pai Yesuguei havia seqüestrado a bela Joguelún, a mãe de Temudjin.

- Yamuga, um amigo que havia realizado um pacto de sangue e que havia traído Temudjin.

O Grande Khan derrotou todos eles. Os chineses possuíam uma cidade completamente inexpugnável, que os mongóis não podiam vencer, mas sitiaram por longo período ocasionando enormes prejuízos.

O Grande Khan ofereceu aos chineses uma troca para levantar o sitio a cidade:

- “Dêem-me todos os pássaros e aves de sua cidade e eu os deixarei em paz”.

Os chineses fizeram isto com alegria e entregaram todos eles em grandes gaiolas.

Quando o Grande Khan teve as aves em seu poder, passou óleo em suas asas e ateou-lhes fogo e soltou, deixando que voassem para seus ninhos nos telhados da cidade, incendiando-a. Desesperados, os habitantes correram para fora, caindo pelas espadas mongóis.


Em uma batalha crucial contra seus inimigos Targutai e Yamuga, Temudjin, vendo que suas forças eram inferiores, fez com que cada soldado fizesse um boneco do porte de uma pessoa e o pusesse em cada um dos cavalos reserva: quando um cavalo se cansava, montavam no ao lado, sendo este exército um dos mais rápidos da história. O exército via-se duas vezes mais numeroso, atemorizando os adversários, o que foi decisivo para o desenlace vitorioso das batalhas.

O Grande Khan implantou o sistema de correios mais rápido da história, já que cada mensageiro ia a galope rápido, com um bom par de cavalos de reserva, utilizando um sistema de percurso com um alcance de 25 quilômetros por hora, durante 4 horas contínuas para levar as mensagens de um posto a outro.

Durante o percurso os soldados não paravam para trocar os cavalos, evitando perdas de tempo.



Quando os Merkitas raptaram a sua esposa, com ataques fulminantes destruiu vários acampamentos merkitas até encontrar a sua amada. Nesse mesmo dia fez amor com ela por toda noite, vindo seu primogênito a nascer nove meses depois.

A cavalaria mongol não podia fazer frente a uma carga da cavalaria pesada, pelo que simulavam fugir para provocar investidas exaustivas de seus inimigos e torná-los vulneráveis. Depois giravam velozmente, convertendo-se nos caçadores.




Quando suas conquistas os levaram a Hungria, ao não poder comparar a cavalaria rápida mongol com a cavalaria pesada húngara, que era muito afamada pelas proteções que utilizavam seus soldados, como peitoris, escudos e lanças, que naquelas épocas pesavam demais, mas eram imbatíveis nas lutas frente a frente, Gengis Khan simulava retiradas. Quando os cavalos húngaros se esgotavam debaixo do peso das armaduras, os mongóis contra-atacavam por todos os flancos com seus rápidos cavalos, indo atrás deles e atirando flechas e matando-os pelas costas.



Gengis Khan implantou um código de leis muito severas inspirado nas crenças e costumes turco-mongóis. Só seus Generais tinham certa imunidade contra estas leis, porque lhes permitia cometer certo número de erros, enquanto que para o resto do povo não havia perdão.

Marcus Bianco explica a estrutura do sistema colonial

O Professor de História, Marcus Bianco, do Curso Dom Bosco, em Curitiba e COC-Paraíso, em São Paulo, explica de forma simples a estrutura do sistema colonial.

terça-feira, 30 de novembro de 2010


O Império Desnudado

Pio Penna Filho*

Novas e indiscretas revelações do site Wikileaks (www.wikileaks.org) recolocaram o governo norte-americano numa situação extremamente desconfortável perante a comunidade internacional. As informações divulgadas pelo site são sensíveis e perturbadoras para as autoridades dos Estados Unidos.
Muitas das informações divulgadas não são necessariamente novidades. A novidade em si é que elas confirmam o que muitos pensavam e/ou suspeitavam sobre a atuação dos Estados Unidos pelo mundo afora.
Revelam também as indiscrições cometidas por agentes públicos de diversos países em conversas com diplomatas norte-americanos, como o caso do Ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, que teria dito que o presidente boliviano, Evo Morales, teria um tumor no nariz. Ora, o que tem a ver Nelson Jobim e o governo brasileiro com uma questão tão íntima do presidente Evo Morales?
Aliás, a documentação, nesse caso, revela também a percepção que os Estados Unidos tem do Brasil. Para eles, somos, em vários aspectos, competidores e não aliados automáticos e confiáveis. Confiável é o ministro Jobim, que faz as vezes do agente pró-americano no governo brasileiro, em contraponto ao ministro Celso Amorim, visto com grande desconfiança.
Com relação ao Brasil nota-se ainda a obsessão norte-americana em encontrar na tríplice fronteira (Argentina-Brasil-Paraguai) a atuação de grupos terroristas islâmicos. Mesmo que não existam evidências concretas sobre isso, o assunto foi motivo de vários encontros de diplomatas norte-americanos com autoridades brasileiras. O mesmo deve ter ocorrido nos países vizinhos. A lição é clara: na ausência do inimigo, nós os criamos!
Dentre outras revelações, a da existência de armas nucleares táticas norte-americanas em vários países europeus é reveladora da persistência de dinâmicas relacionadas à finada Guerra Fria. Por que os Estados Unidos ainda mantém armas nucleares táticas (de curto e médio alcance) em países como a Holanda e a Bélgica? Por que os governos desses países permitem que esse tipo de armamento continue estocado em seus territórios? Chega a ser até uma contradição com todo o discurso norte-americano relacionado à proliferação nuclear.
Outra revelação: parece não existir uma claraseparação entre a pura espionagem e a diplomacia dos Estados Unidos. Monitoramento de autoridades, conversas indiscretas que são retransmitidas a agências de segurança, preocupação excessiva focada no chamado “terrorismo” internacional e outras matérias acabam desqualificando os diplomatas dos Estados Unidos espalhados pelos quatro cantos do mundo, inclusive no Brasil.
Agora o governo norte-americano tenta pressionar o fundador e os administradores do site, buscando encontrar brechas legais para incriminá-los. Se o estrago para a imagem dos Estados Unidos foi grande, essas revelações são alvissareiras para o resto do mundo, uma vez que desnudam a forma de atuação e a falta de escrúpulos dos norte-americanos em termos de diplomacia e espionagem.

Refugiados – 60 Anos do ACNUR

Pio Penna Filho
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com


O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) completa 60 anos de existência. O ACNURé uma agência das Nações Unidas que assumiu importantes funções humanitárias desde a sua criação e que continua trabalhando incansavelmente para que milhões de pessoas em sérias dificuldades possam desfrutar de alguma assistência das Nações Unidas.
Estima-se que existam hoje no mundo cerca de 15 milhões de refugiados e 27 milhões de deslocados, que são os principais beneficiados pelas ações do ACNUR. Essa gente está espalhada por todos os continentes, sendo que o mais problemático de todos continua sendo a África, não por acaso onde residem os mais pobres.
Segundo a Convenção de Genebra (1951), um refugiado é aquele que, em razão de fundados temores de perseguição de qualquer natureza (política, religiosa, racial, etc), se vê obrigado a buscar refúgio em outro país para preservar a sua vida. Nesse sentido, trata-se de uma decisão extrema visando a segurança e a sobrevivência.
Deslocados são aqueles que geralmente são obrigados a deixar suas regiões de origem ou de residência para buscar abrigo em outra região, usualmente no mesmo país. As motivações costumam ser muito parecidas com as dos refugiados. Ou seja, os deslocados migram em função de perseguições de natureza variada (política, religiosa, racial etc) ou em decorrência de catástrofes naturais.
Ambos constituem-se em grupos vulneráveis, fragilizados e sem apoio ou com quase nenhuma atenção dos seus países de origem, daí a enorme importância que a ONU, por meio do ACNUR, desempenha em suas vidas. São pessoas esquecidas, abandonadas à própria sorte.
Os refugiados costumam viver em campos que surgem do nada, normalmente em lugares distantes e sem nenhuma infraestrutura. Falta-lhes de tudo: água, comida, abrigo, remédios, roupas, assistência médica. Como se amontoam aos milhares e num curto período de tempo, acabam criando condições propícias para o surgimento de epidemias que costumam ser devastadoras, ainda mais num contexto de fome e subnutrição. São também suscetíveis à violência de gangues e de grupos que acabam se aproveitando da lei do mais forte para retirar-lhes o quase nada que possuem.
Os brasileiros tem certa dificuldade em entender o drama vivenciado pelos refugiados e pelos deslocados porque não temos, na nossa história, experiências e traumas de grande envergadura dessa natureza. Além disso, somos um país que tradicionalmente recebe poucos refugiados, fato que nos afasta ainda mais da dura realidade dos milhões de seres humanos que passam por essa situação.
Sem o ACNUR o drama vivenciado por essas pessoas certamente seria muito mais intenso. É nele que os milhões de refugiados e deslocados acabam encontrando alguma esperança de dias melhores e, em muitos casos, da própria sobrevivência. O ideal seria que não tivéssemos que celebrar a existência de uma entidade dessa natureza, mas infelizmente o ser humano tem se mostrado cada vez mais hostil à sua própria espécie.

Confira as questões da prova de História da UERJ 2010

Prova de História da UERJ 2010


01. "O casal Arnolfini"





http://upload.wikimedia.org

Sempre que se evoca o tema do Renascimento, a imagem que nos vem à mente é a dos grandes artistas e de suas obras mais famosas. Isso nos coloca a questão: por que razão o Renascimento implica esse destaque tão grande dado às artes visuais? De fato, as artes plásticas acabaram se convertendo num centro de convergência de todas as principais tendências da cultura renascentista. E mais do que isso, acabaram espelhando os impulsos mais marcantes do processo de evolução das relações sociais e mercantis.
NICOLAU SEVCENKO. Adaptado de O Renascimento. São Paulo: Atual; Campinas: Ed. Unicamp, 1984.

As diversas manifestações da cultura renascentista na Europa ocidental, entre os séculos XIV e XVI, estiveram relacionadas à criação de novos valores e práticas sociais que se confrontaram com aqueles da sociedade medieval. Cite dois aspectos da cultura renascentista que justifiquem a sua importância para o início dos Tempos Modernos.

Resposta
Sería possível escolher dois entre os aspectos abaixo:
• valorização do indivíduo
• abandono do teocentrismo
• defesa dos ideais humanistas
• defesa dos valores burgueses
• valorização da liberdade individual
• utilização da razão na explicação do mundo
• visão mais natural e humanizada da religião


.

02 Pelo que, começando, digo que as riquezas do Brasil consistem em seis coisas, com as quais seus povoadores se fazem ricos, que são estas: a primeira, a lavoura do açúcar; a segunda, a mercancia; a terceira, o pau a que chamam do Brasil; a quarta, os algodões e madeiras; a quinta, a lavoura de mantimentos; a sexta e última, a criação de gados. De todas estas coisas o principal nervo e substância da riqueza da terra é a lavoura dos açúcares.
AMBRÓSIO FERNANDES BRANDÃO, 1618. Adaptado de PRIORE, M. del; VENÂNCIO, R. P. O livro de ouro da história do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

Considera-se hoje que o Brasil colonial teve um desenvolvimento bastante diferente da interpretação de Caio Prado Júnior. É que mudou a ótica de observação: os historiadores passaram a analisar o funcionamento da colônia. Não que a intenção da política metropolitana fosse diferente do que propõe o autor. Mas a realidade se revelava muito mais complexa. No lugar da imagem de colonos engessados pela metrópole, vem à tona um grande dinamismo do comércio colonial.
SHEILA DE CASTRO FARIA. Adaptado de www.revistadehistoria.com.br

O texto do século XVII enumera interesses da metrópole portuguesa em relação à colonização do Brasil; já o segundo texto, uma análise mais contemporânea, descreve uma sociedade mais complexa que ia além dos planos dos exploradores europeus. Indique dois objetivos da Coroa Portuguesa com a implantação da empresa açucareira no Brasil colonial. Em seguida, identifique duas características da economia colonial que comprovam o seu dinamismo interno


Respostas:

Dois dos objetivos:

• fixar população portuguesa à terra

• garantir o controle político do território por Portugal

• produzir mercadoria de alto valor comercial no mercado europeu
• garantir rendas à Coroa Portuguesa por meio da produção de gêneros de valor comercial
• garantir o monopólio do Atlântico Sul e, consequentemente, da rota marítima para o Oriente
• afirmar a preponderância portuguesa no cenário das grandes nações europeias do século XVI

Duas das características:
• existência de atividades econômicas utilizando mão de obra livre
• desenvolvimento de relações comerciais internas e com outras regiões, apesar das proibições
características do monopólio metropolitano
• existência de uma quantidade de capital circulante na colônia, empregado não só no tráfico
negreiro como também na criação do gado e na lavoura de subsistência, voltadas
principalmente para o mercado interno

A queda da Bastilha simbolizou a vitória dos ideais revolucionários sobre o regime absolutista e
aristocrático.


03.





Candidatos a presidente da República do Brasil em 1989: Mário Covas, Aureliano Chaves, Luis Inácio Lula da Silva, Guilherme Afif Domingos, Fernando Collor de Mello, Paulo Maluf, Ronaldo Caiado, Roberto Freire, Leonel Brizola, Ulysses Guimarães.

O Jornal do Brasil aproveitou a corrida eleitoral pela presidência do Brasil em 1989 e consultou a opinião dos candidatos para a seguinte questão: “Se o senhor tivesse vivido a Revolução Francesa, que personagem da época gostaria de ter encarnado?” A maioria preferiria ter sido povo. Dois gostariam de ter sido filósofos. Ninguém quis ser político. Mas, curiosamente, aqueles que queriam ser povo ou filósofo em 1789, duzentos anos depois, almejavam a presidência. Candidatos a presidente da República do Brasil em 1989: Mário Covas, Aureliano Chaves, Luis Inácio Lula da Silva, Guilherme Afif Domingos, Fernando Collor de Mello, Paulo Maluf, Ronaldo Caiado, Roberto Freire, Leonel Brizola, Ulysses Guimarães.
Adaptado de www.jblog.com.br
O dia 14 de julho de 1789, data da queda da Bastilha, é considerado pelos historiadores um marco da Revolução Francesa.
Considerando o contexto político da França em 1789, explique a importância simbólica da queda da Bastilha para o movimento revolucionário francês.
Apresente, também, duas propostas da Revolução Francesa que ainda façam parte da ordem política contemporânea.

Duas das propostas:
• direito ao voto
• soberania popular
• cidadania política
• liberdade de religião
• liberdade de expressão
• igualdade perante a lei
• sistema político representativo
• estabelecimento do sistema republicano
• estabelecimento de regimes parlamentares
• divisão do poder político em três instâncias: Executivo, Legislativo e Judiciário


04. O enriquecimento da vida cultural do Rio de Janeiro, e até mesmo do país, após 1808, decorreu, sobretudo, das necessidades da elite dominante. No ambiente acanhado da sociedade americana, a novidade dos procedimentos característicos do círculo real exerceram extraordinário fascínio, produzindo um poderoso efeito “civilizador” em relação à cidade. Em contrapartida, a Coroa não deixou de adotar também medidas de controle mais eficientes. Após a tormenta da Revolução Francesa e ainda vivendo o turbilhão do período napoleônico, era o medo dos princípios difundidos pelo século das Luzes, especialmente as “perniciosas” ideias francesas, que ditava essas cautelas.
LÚCIA M. P. DAS NEVES E HUMBERTO F. MACHADO Adaptado de O império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
O texto aborda um duplo movimento provocado pela presença da Corte portuguesa no Brasil: o estímulo às atividades culturais na colônia e, ao mesmo tempo, o controle conservador sobre essas atividades.
Indique duas ações da Coroa que enriqueceram a vida cultural da cidade do Rio de Janeiro.
Explique, ainda, como o Estado português exercia controle sobre as atividades culturais.

Órgãos do Estado português, agora sediados no Brasil, exerciam a função de fiscalizar e censurar todos os impressos, inclusive os importados, que aqui fossem publicados sob a justificativa de cuidar da moral, da religião e dos bons costumes.

Duas das ações:
• criação da Imprensa Régia
• contratação da Missão Artística Francesa
• fundação do futuro Jardim Botânico (Real Horto)
• fundação da futura Biblioteca Nacional (Real Biblioteca)
• publicação de jornais, periódicos e obras de caráter científico com o aval da Imprensa Régia.


05.


Em nome do povo do Rio Grande, depus o governador e entreguei o governo ao seu substituto legal. E em nome do Rio Grande do Sul, digo que nesta província extrema, afastada da Corte, não toleramos imposições humilhantes. O Rio Grande é a sentinela do Brasil que olha vigilante o Rio da Prata. Não pode e nem deve ser oprimido pelo despotismo. Exigimos que o governo imperial nos dê um governador de nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses, ou, com a espada na mão, saberemos morrer com honra, ou viver com liberdade.

Carta escrita em 1835 por Bento Gonçalves, líder farroupilha, ao Regente Feijó. Adaptado de PESAVENTO, S. J. A Revolução Farroupilha. São Paulo: Brasiliense, 1990.

Rio-grandenses! Tenho o prazer de anunciar-vos que a guerra civil que por mais de nove anos devastou esta bela província está terminada. Os irmãos contra quem combatíamos estão hoje congratulados conosco e já obedecem ao legítimo governo do Império do Brasil. União e tranquilidade sejam de hoje em diante nossa divisa. Viva a religião, viva o Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Viva a integridade do Império.

Proclamação feita pelo Barão de Caxias em 1845, fim da Revolução Farroupilha. Adaptado de SOUZA, A. B. de. Duque de Caxias: o homem por trás do monumento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

A consolidação do Império do Brasil, entre as décadas de 1830 e 1850, significou a vitória de determinado projeto político e também o combate de propostas, como as defendidas pelos que
lutaram na Revolução Farroupilha.
Aponte uma das propostas dos líderes farroupilhas e explique por que esse movimento foi considerado ameaçador pelos dirigentes do Império do Brasil.

Respostas:
Uma das propostas:
• defesa do federalismo
• abolição da escravidão
• possibilidade de separatismo
• defesa do regime republicano
• revisão da política tributária imperial relativa ao charque sulino.

Os farroupilhas criticavam a monarquia e principalmente sua política centralizadora e unitarista, ameaçando a integridade territorial da nação e o ideal de unidade estabelecido pela Constituição
de 1824.




6.Durante os últimos três meses, visitei uns vinte estados deste belo país extraordinariamente rico. As estradas do oeste e do sudoeste pululam de pessoas famintas pedindo carona. As fogueiras dos acampamentos dos desabrigados são visíveis ao longo de todas as estradas de ferro. Os fazendeiros estão sendo pauperizados pela pobreza das populações industriais, e as populações industriais, pauperizadas pela pobreza dos fazendeiros. Nenhum deles tem dinheiro para comprar o produto do outro; consequentemente há excesso de produção e carência de consumo, ao mesmo tempo e no mesmo país.
Relato feito em 1932 por Oscar Ameringer à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Adaptado de MARQUES, A. M. et al. História contemporânea através de textos. São Paulo: Contexto, 1990.

O depoimento acima faz referência a efeitos da Crise de 1929 para a sociedade norte-americana.
Apresente dois fatores que contribuíram para deflagrar essa crise e cite seu principal desdobramento para a economia europeia naquele momento.

Dois dos fatores:
• especulação financeira
• superprodução agrícola
• superprodução industrial
• desaceleração do consumo
• quebra da Bolsa de Nova York
• reaquecimento das economias europeias
Um dos princípios:
• abertura para a iniciativa privada em pequena escala
• manutenção do controle estatal sobre os setores-chave da produção
A crise econômica e financeira, iniciada com a falência de empreendimentos agrícolas e industriais dependentes de capitais norte-americanos, repatriados em função da quebra da Bolsa de Nova York.



07 Cuba e as reformas do bloco socialista: back to the future?
Os líderes cubanos excitaram a imaginação do mundo ao lançarem em setembro o mais radical pacote de medidas. As reformas cubanas trazem logo à mente duas grandes ondas de reforma na antiga União Soviética: a Nova Política Econômica - NPE, nos anos 1920, e o início da Perestroika, em meados dos anos 1980. Em ambas, inicialmente, as medidas tomadas e o espírito condutor eram bastante parecidos, mas os resultados das duas foram completamente diferentes. Qual desses caminhos seguirá Cuba, em um mundo cada vez mais globalizado?
ÂNGELO SEGRILLO Adaptado de O Globo, 19/09/2010
No mundo contemporâneo, países socialistas viveram situações de crise, contornadas por meio da promoção de reformas, como as mencionadas no texto.
Aponte um princípio comum à Nova Política Econômica e à Perestroika. Em seguida, indique o
principal resultado de cada uma dessas políticas promovidas pelo governo soviético.
A NPE permitiu contornar a crise e consolidou a orientação socialista soviética. A Perestroika conduziu à desintegração da União Soviética e ao fim do socialismo nos países do bloco sob sua influência direta.

Dois dos efeitos para a sociedade japonesa:
• destruição de cidades
• proibição de rearmamento
• prejuízos para a população civil
• reconstrução nacional em bases capitalistas
• aceitação da rendição incondicional perante os EUA
• ocupação militar e intervenção política e administrativa norte-americana
• adoção de reformas políticas de restrição ao poder exercido pelo imperador

08.


Cidade de Hiroshima após o lançamento da bomba atômica em 6 de agosto de 1945http://pt.wikipedia.org


Os EUA enviaram, em 2010, pela primeira vez, um embaixador, John Ross, para participar das comemorações relativas ao ataque nuclear em Hiroshima. A cidade industrial de Hiroshima foi bombardeada no dia 6 de agosto de 1945, o que resultou na morte de cerca de 140 mil pessoas. Essa é considerada a maior tragédia nuclear da história. Três dias mais tarde, os EUA lançaram uma segunda bomba em Nagasaki, causando mais 70 mil mortes. No âmbito das comemorações em Hiroshima, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-Moon, voltou a apelar pelo desarmamento nuclear no mundo.
Adaptado de http://dn.sapo.pt

O lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki possibilitou o fim da Segunda Guerra Mundial, acarretando, para todos os países envolvidos no conflito, muitas transformações e inaugurando novas tensões internacionais.
Aponte dois efeitos da Segunda Guerra Mundial para a sociedade japonesa e dois efeitos da utilização de armamentos nucleares para as relações internacionais no pós-guerra.
Dois dos efeitos para as relações internacionais:
• instauração da Guerra Fria
• reavaliação dos riscos decorrentes das guerras
• desenvolvimento de políticas armamentistas nucleares
• concorrência entre os países pela posse de arsenal nuclear

09


A Copa do Mundo de Futebol de 2010 teve grande destaque na mídia internacional, em especial,
devido ao fato de ser realizada, pela primeira vez, no continente africano. Esse evento seria
impossível décadas antes, em função do boicote proposto pela Organização das Nações Unidas
- ONU à África do Sul em 1962.
Apresente o motivo que levou a ONU a propor um boicote de seus países-membros à África do Sul
em 1962 e cite duas características do regime político sul-africano daquela época que justifiquem
essa atitude internacional.
Existência do regime segregacionista denominado Apartheid, legitimado pelas leis do país.
Duas das características:
• criminalização do casamento inter-racial
• segregação dos negros no tocante à educação e ao lazer
• exclusão dos habitantes negros do exercício da cidadania política
• criação de áreas para residência de negros, sem qualquer infraestrutura, chamadas bantustões
• impedimento do acesso dos negros à propriedade de terra nas áreas privilegiadas com
infraestrutura e mais ricas produtivamente
• discriminação da população negra no tocante a postos de trabalho e ao acesso a bens materiais
e culturais destinados exclusivamente aos brancos

Adaptado de Nosso século. Vol. 5. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
ZIRALDO
Nosso século. Vol. 5. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
No decorrer da década de 1970, medidas econômicas implementadas pelos governos militares
afetaram de maneiras variadas as condições de vida dos brasileiros, como ilustram a propaganda
e a charge.
Indique duas dessas medidas econômicas e dois dos seus efeitos sociais.
Duas das medidas:
• controle da inflação
• controle do câmbio pelo Estado
• favorecimento do grande capital
• controle da mão de obra por meio de políticas de arrocho salarial
• favorecimento do consumo de bens duráveis por meio da facilitação do crédito
• estímulo ao crescimento do setor industrial de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e automóveis
Dois dos efeitos:
• arrocho salarial
• concentração de renda
• perda da estabilidade no emprego
• aumento das desigualdades sociais
• aumento das desigualdades regionais
• aumento da concentração da propriedade urbana e rural

O que foi a Revolta da Chibata?
No dia 22 de novembro de 1910, marujos liderados pelo marinheiro negro, João Cândido Felisberto, iniciaram uma insurreição contra os castigos físicos, baixos salários e péssimas condições de trabalho na Marinha brasileira da época
Paula Takada (paula.takada@abril.com.br)




João Candido Felisberto, líder da Revolta
da Chibata. Fonte: Associação Cultural
do Arquivo Nacional
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No início do século 20, a maior parte dos trabalhadores da Marinha brasileira era composta por mulatos e negros, escravos libertos ou filhos de ex-escravos. As condições de trabalho eram precárias: os marinheiros tinham remuneração baixa, recebiam péssima alimentação durante as longas viagens nos navios e, o mais grave, estavam submetidos a punições corporais, caso desobedecessem alguma regra.
Mais de duas décadas após a abolição da escravidão, a prática de castigos físicos ainda era comum na Marinha brasileira. Punições típicas do período colonial haviam sido revogadas com a Proclamação da República, em 1889, e reintroduzidas pelo Decreto 328, de abril de 1890. O rebaixamento de salário, o cativeiro em prisão solitária por um período de três a seis dias, a pão e água, para faltas leves ou reincidentes, e as 25 chibatadas para faltas graves eram penas regulamentadas em plena República.

Esse contexto revoltava centenas de marujos que durante os anos de 1908 e 1909 passaram a se organizar, buscando, sem sucesso, negociar melhorias trabalhistas com o governo. No dia 21 de novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes, acusado de embarcar com uma garrafa de cachaça, foi violentamente punido não com 25, mas com 250 chibatadas, na presença de todos os tripulantes.

O castigo exagerado do marujo levou ao início da revolta, no dia 22 de novembro, com a participação de cerca de 2.300 marinheiros que, liderados por João Cândido Felisberto, tomaram o controle dos encouraçados Minas Gerais, São Paulo e do cruzador-ligeiro Bahia (recém-construídos na Inglaterra) e do antigo encouraçado Deodoro. Uma carta reivindicando melhores condições de trabalho e modificações na legislação penal e disciplinar com destaque para a extinção das chibatadas foi enviada ao governo. Com os canhões das embarcações apontados para a cidade do Rio de Janeiro, os marinheiros ameaçavam bombardear a capital do país, caso suas exigências não fossem atendidas.

O governo cedeu às pressões dos marujos e em 27 de novembro de 1910 a chibata foi abolida da Marinha de Guerra brasileira. Oficialmente, a anistia estava garantida aos revoltosos liderados por João Cândido - que a partir desse momento, passou a ser tratado pela imprensa como o "Almirante Negro". No dia seguinte, porém, o presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca assinou o decreto 8.400 que permitia a exclusão da Marinha de qualquer marujo cuja presença fosse julgada inconveniente por seus superiores. Repressão violenta na Ilha das Cobras

Segundo o historiador Marco Morel, cerca de 1.200 homens foram expulsos da Marinha, centenas foram presos e outros 30 foram assassinados. As prisões do Batalhão Naval localizado na Ilha das Cobras, na baía de Guanabara, estavam lotadas e, em 9 de dezembro, uma nova rebelião foi iniciada. O governo rapidamente reprimiu a insurreição e usou a situação para suspender a anistia oficialmente anunciada semanas antes.


João Cândido então foi preso, acusado de liderar a recente rebelião. Na noite de 24 de dezembro, véspera de Natal, 31 marinheiros foram trancados em duas pequenas celas repletas de cal, que teria sido utilizada para higienizar o ambiente. No dia 26, quando os funcionários do cárcere voltaram ao trabalho, apenas dois marujos sobreviviam: João Cândido e João Avelino Lira.

Bastante traumatizado e tendo alucinações, João Cândido foi levado ao Hospital Nacional dos Alienados, no bairro da Urca, onde permaneceu internado por três meses. Depois de recuperado, foi levado de volta à prisão na Ilha das Cobras, cumprindo pena até 30 de dezembro de 1912.

Impedido de retornar à Marinha, João Cândido trabalhou em embarcações particulares, sendo constantemente demitido por pressão da Marinha sobre seus patrões. Passou a ganhar a vida como pescador e comerciante de peixes na Praça XV. Morreu em 1969, aos 89 anos, vitima de um câncer de pulmão.

Em 1977, Aldir Blanc e João Bosco homenagearam o líder da Revolta da Chibata compondo o samba "Mestre-sala dos Mares", interpretado por Elis Regina.

Em 2008, o presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionou a lei federal de número 11.756 concedendo a anistia póstuma a João Cândido e a outros marinheiros que participaram da revolta. No entanto, a indenização aos descendentes dos marujos foi vetada pelo presidente da República.


"Mestre-sala dos Mares", de Aldir Blanc e João Bosco

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos
entre cantos e chibatas
Inundando o coração
do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro,
gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas,
às sereias
Glória à farofa
à cachaça,
às baleias

Glória
a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento
as pedras pisadas do cais
Mas salve

Salve o navegante negro
Que tem por monumento
as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo
Minas de ouro guardam histórias de sofrimento dos negros, na época da escravidão


Terra de Minas visita antigas minas de ouro na região de Ouro Preto.
Minas de ouro guardam histórias de sofrimento dos negros, na época da escravidão.
Conheça a lenda de Chico Rei, a alma dos congados em Minas Gerais



Lenda do Chico Rei está na alma dos congados

Lenda ou história? Chico Rei, o homem que era rei na África e virou escravo no Brasil, faz parte do imaginário. A luta também está na alma dos congados - tradição que mistura música, dança e fé.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Navio Negreiro, de Castro Alves

Confira o poema Navio Negreiro, de Castro Alves na voz de Paulo Autran
Com imagens do filme Amistad, realizado por Steven Spielberg.
Escute Tragédia no mar (ou O navio negreiro) de Castro Alves, na voz de Paulo Autran.
O poeta Castro Alves escreveu O navio negreiro aos 22 anos, em 1869. A lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravos, fora promulgada quase vinte anos antes. Cada parte do poema tem métrica própria, de maneira que o ritmo de cada estrofe retrata a situação apresentada nela.



Navio Negreiro

Castro Alves


I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.


II


Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...


III


Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!


IV


Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...


V


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...


VI


Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!