segunda-feira, 23 de novembro de 2009

HISTÓRIA NA MÍDIA






Modelo cubano é posto em xeque no 50º aniversário da revolução
Historiadores dizem ser difícil fazer um balanço dos avanços de Cuba. É preciso relativizar impacto do embargo dos EUA, afirmam analistas.
Daniel Buarque
Do G1, em São Paulo



Foto: AFP
Anúncio comemora o 50º aniversário da Revolução Cubana (Foto: AFP)
Um dos principais marcos da história do continente, a Revolução Cubana completa 50 anos nesta quinta-feira (1º). Alvo ao mesmo tempo de idolatria e de críticas violentas, o modelo cubano entra na sua sexta década depois de tirar do poder um ditador e instaurar um modelo político controverso, aclamado em sua busca pela igualdade social e acusado de tolher a liberdade da população.

Por mais recheada de polêmicas e debates que seja a história recente de Cuba, a importância da tomada do poder pelo grupo liderado por Fidel Castro, 50 anos atrás, é consensual, segundo o historiador Luís Fernando Ayerbe, autor de “A Revolução Cubana” (Ed. UNESP).
saiba mais


“O momento de tomada do poder é fundamental, pois é quando um grupo de rebeldes idealistas consegue apoio popular para derrotar uma ditadura bem armada. É muito importante. O que veio depois disso foi um processo longo, que não é consenso entre os pesquisadores e que leva a muita divergência”, disse, em entrevista ao G1. Segundo o historiador Antoni Kapcia, professor da universidade britânica de Nottingham especialista em América Latina, entretanto, foi este momento revolucionário que pôs em marcha o que se seguiu desde então. “O momento exato da revolução foi o que pôs em marcha o processo que se seguiu e que mudou a história do continente. É o ponto em que tudo começou, um ponto de mudança que se seguiu até 1962, quando se tornou claro o que aconteceria desde então”, disse ao G1. “As mesmas estruturas e ideologia dos primeiros anos sobrevivem até hoje, bem como os processos de participação e envolvimento popular. Também sobrevive o compromisso com o bem-estar social. Paralelo a isso, há a sobrevivência do embargo norte-americano”, disse Kapcia. Balanço Segundo os pesquisadores ouvidos pelo G1, é difícil fazer um balanço que avalie os avanços e retrocessos de Cuba desde a revolução. Eles apontam que houve erros do governo instaurado em 1959, mas alegam que Cuba muitas vezes agiu sob pressão internacional, e que, por ser um caso único no mundo atual, não pode ser julgado de forma simplista. “É difícil dizer se o modelo cubano é bem-sucedido ou se fracassou. O sistema implantado funcionou muito bem em termos de benefícios aos cidadãos, manutenção da unidade e da segurança, incluindo participação popular e resistência ao embargo. Cuba é um caso único, que resistiu a todo tipo de pressão internacional, e seu modelo não pode ser copiado, por mais que seja inspiração para movimentos de esquerda que existem até hoje no continente”, disse o professor britânico. Embargo No cerne das discussões sobre os lados positivos e negativos do modelo cubano encontra-se o cerco dos Estados Unidos à economia do país: o embargo econômico. Para os que defendem a ilha, o bloqueio econômico é responsável pela penúria em que vivem muitos cubanos. Sem poder fazer negócios com a mais importante economia do mundo, a ilha amarga sérios problemas econômicos, e acaba penalizando a qualidade de vida. Segundo os historiadores entrevistados, o embargo é, sim, importante, mas não pode ser apontado como única causa dos problemas cubanos. “O embargo norte-americano é muito mais importante de que os críticos de Cuba sabem, e muito menos relevante do que o governo cubano historicamente alega. Ele foi responsável pela aproximação entre Cuba e a União Soviética, por exemplo, e fez com que a economia cubana se tornasse dependente do Estado. As coisas pioraram nos anos 90, é verdade, e não se pode ignorar seus efeitos, mas culpar o embargo por tudo é tirar a responsabilidade dos cubanos por muitos erros na condução do país”, disse Kapcia. O professor Ayerbe faz coro com o britânico, e diz que o impacto do embargo precisa ser relativizado. “É um grave problema, atrapalha a economia do país e sua integração global, mas o país já vem estreitando relações comerciais com muitos países do mundo, independentemente do bloqueio dos Estados Unidos. Não se pode dizer que é o fator principal dos problemas cubanos, por mais que seja, sim, importante.” A mudança de liderança política nos Estados Unidos, entretanto, não deve diminuir a pressão do país em relação a Cuba, segundo Ayerbe. “É difícil imaginar que o embargo vai ser encerrado pelo novo governo dos EUA. Obama já disse ser contra o embargo, mas existem vários entraves políticos e econômicos, que fazem com que o governo mantenha a política em relação à ilha.” Futuro A manutenção do modelo atual e o futuro de Cuba têm sido objeto de análises no mundo inteiro desde que Fidel Castro se afastou do poder, em 2006, e renunciou à presidência, no início de 2008. Para alguns pesquisadores, o caminho a ser seguido pelo irmão do líder da Revolução, Raúl Castro, segue os passos do que aconteceu na China, que se abriu ao capital internacional. Para o professor da universidade britânica, no entanto, os passos de Raúl na presidência dão impressão de que a guinada política do país não vai ser tão radical. “Os líderes cubanos têm medo dos custos de seguir o modelo chinês, que é cheio de desigualdades e de corrupção. Não acredito que eles sigam este exemplo, e acho que vão tentar seguir o que existe no Vietnã, que tem uma economia mais moderna e aberta, mas menos capitalista que a da china atual. Não acho que eles estejam próximos de se tornar uma democracia multipartidária, entretanto.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário